Publicado em 24 de Dezembro de 2013, este conto narra uma batalha épica, na qual a Morte e seus Ceifadores recebem ajuda de uma Legião de Anjos Músicos para reverter uma catástrofe, num dos dias mais importantes da História.
Gloria In Excelsis Deo
Ceifadores no Campo
Um Conto de Natal
Juliano G. Leal
Feliz, 2013
Dedico essa obra a todos aqueles que amam a história do Natal, por amarem Jesus o Messias e o considerarem o maior presente do Eterno para a humanidade.
Há uma batalha acontecendo desde tempos imemoriais pela sua vida. O inimigo conhecido como diabo, quer te afastar do teu Criador. Receba Jesus na sua vida, deixe que ele nasça no seu coração e te dê salvação e vida eterna!
“Porque Deus amou tanto o mundo que deu seu filho unigênito, para que todo o que crê Nele não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16
Gloria In Excelsis Deo
– Tu viu a fúria dele? Nunca vi ele desse jeito. Confesso que tô assustado.
– E era pra menos? Olha a bagunça que o outro tá fazendo só por causa de uma estrela no céu. Nosso trabalho triplicou. E tu sabe que o chefe detesta essas interferências na ordem natural das coisas...
Os passos rápidos nas pedras das ruas tortuosas de Jerusalém abafavam o murmúrio dos dois colegas de trabalho. Estavam atrasados. Iam para o Hermom.
– Tem noção de como é longe pra ir andando?
– Como se isso importasse. A gente não cansa. Tá reclamando do quê?
– A gente não vai poder ir do jeito normal nem um pedaço do trajeto?
– Vai. Quando eu achar que é seguro.
– A estrela, pelo que parece, parou sobre a Terra de Lahmu. O mesmo lugar onde já nasceu outro rei.
– Davi, novato. Esse é um dos motivos do tumulto. Existe uma antiga profecia que diz que o Rei dos Reis vai nascer na Cidade de Davi. E também há outra profecia falando de um sinal no céu.
– O que vai acontecer lá no monte? Posso saber? Dá pra me adiantar alguma coisa?
– Vamos encontrar os outros. E vamos receber ajuda.
– Ajuda? De quem?
– Tu vai ver quando a gente chegar lá. Aqui é seguro.
Numa fração de segundo, uma névoa escura e densa os envolveu e eles sumiram dali.
Longe dali, um homem prestes a se tornar pai de família, corre batendo de porta em porta, implorando por um quarto ou cama para sua esposa em trabalho de parto.
Mas as vagas na cidade estão esgotadas. Há a possibilidade de se hospedar em uma cabana. Milhares delas estão espalhadas por todos os lados por causa da Grande Festa.
– Valha-me o Altíssimo. Uma cabana improvisada não é um bom lugar pra se ter um bebê...
Um idoso que viu o desespero nos olhos do homem, o chamou dizendo:
– Meu jovem, admiro sua disposição, mas sua busca é inútil. Venha, meus animais são dóceis e a cabana deles foi limpa pouco antes do pôr-do-sol. Vou acomodar os animais longe de vocês e deixar que usem a parte mais limpa e protegida da cabana.
O homem olhou hesitante para sua esposa, mas ela fazia movimentos verticais repetitivos com a cabeça e os olhos muito arregalados, que o compeliam a aceitar a proposta.
Os colegas chegaram ao Hermom. E o novato ficou de queixo caído.
Sobre a montanha, os céus abertos eram visíveis apenas para os não-humanos. Um círculo enorme se abria por entre as nuvens e milhares de seres com roupas resplandecentes desciam dali.
– Anjos! Vamos receber ajuda dos anjos! Eu não sabia que eles podiam trabalhar com a gente!
– É uma emergência. O chefe pediu ajuda pro Altíssimo. Tá demais. O outro acha que vai conseguir impedir o cumprimento das profecias precipitando mortes.
– Tu tem medo de dizer o nome dele?
– Bem capaz! Olha bem pra minha cara, novato! Mas que barbaridade! Eu tenho é nojo de falar naquele mequetrefe!
Uma trombeta soou alto e todos se voltaram para olhar. No topo da montanha, um ser magro, de boa aparência, vestindo uma túnica negra muito elegante, com um semblante jovial e tranquilo apesar de seu olhar austero e penetrante, começa a falar:
– Muito boa noite. Muito bem vindos. Obrigado por atenderem tão rapidamente meu chamado. E obrigado Altíssimo – disse olhando para o céu – por atender meu pedido.
Ouviu-se um rumor na plateia. Um som reverente de concordância. Ele prosseguiu.
– Permitam que me apresente àqueles que não me conhecem. Me chamo Morte. Fui criado para administrar os momentos limites da vida da criação. E estes que aqui estão, com suas túnicas semelhantes à minha, são meus ajudantes nessa missão de conservação e equilíbrio.
Um dos anjos deu um passo à frente e tomou a palavra.
– Eu sou Hallel. Fui designada para comandar essa missão. Não fomos autorizados a usar nenhuma arma. Vamos combater o inimigo com música. Vocês tem um protocolo. Nós fomos instruídos a afastar as hostes inimigas dos pontos críticos para que vocês retomem a rotina.
Morte retomou a palavra.
– E vocês meus irmãos, foram autorizados a devolver a vida aos que foram injustamente ceifados. Mas essa concessão vale apenas para as próximas horas. Os profetas anunciaram que quando o Rei dos Reis nascesse ele salvaria a humanidade da perdição eterna, perdoando os pecados deles. O inimigo não está tentando evitar o nascimento do Rei, ele está tentando privar as pessoas de serem salvas por ele!
A trombeta tocou novamente. Hallel e suas tropas dispararam em todas as direções, para os quatro cantos do planeta, carregando trombetas, harpas, tambores, guitarras, violões, clavicórdios, saltérios, cítaras, harmônicas, trompetes, violinos, apitos, berimbaus, banjos e todo o tipo de instrumento que se possa imaginar.
Os ceifadores desapareciam em suas nuvens espessas para surgir novamente frente a frente das hordas malignas.
Os demônios rugiam e ameaçavam furiosos os ceifadores, mas não podiam nada contra eles. Mas a recíproca era verdadeira. Os ceifadores também eram incapazes de impedí-los.
A dupla de ceifadores de Jerusalém voltou para seu território e começou a trabalhar no exato momento em que viram Hallel chegar acompanhada de um pelotão com uns quinhentos anjos, fazendo um estardalhaço que atordoava os demônios. Uns desmaiavam, outros fugiam. Mas alguns tentaram enfrentá-la...
– Ele vai tentar fazer o que eu penso que vai? – Perguntou o novato.
– É insano o suficiente pra isso. Fecha os ouvidos, vai por mim.
O demônio tinha o dobro do tamanho dela e portava duas espadas com a lâmina bifurcada nas pontas. Gritou impropérios e ergueu suas armas mirando o pescoço de Hallel.
Ela abriu os braços como se fosse aceitar o golpe sem reagir, mas quando as lâminas estavam prestes a tocar sua pele...
– KADOSH! ADONAI ELOHIM TZEVAOT!
Sua voz era ensurdecedora, misturava o grito de uma águia com o rugido de um leão e seu poder fez com que o demônio explodisse em pedaços. Uma das espadas caiu penetrando o solo bem ao lado do novato. A mão do dono ainda segurava o cabo...
– Eles podem fazer isso com a gente?
– Prefiro não saber. Vai! Tem três casas nessa vila que precisam de nós. Corre! Corre! Corre!
A batalha prosseguia. Um anjo enorme rodopiava e tirava sons agudíssimos de uma guitarra. Cada nota fazia cerca de vinte ou trinta demônios despencarem do voo e aterrissarem forçosamente no solo.
Um violinista aproveitou o arco para dar uns petelecos nos que quiseram se aproximar demais.
Distante dali, próximo a um cemitério, um trombonista soltava sons longos e espaçados trazendo a vida de volta àqueles que tinham sido vítimas nas semanas anteriores.
O planeta fervilhava com uma batalha pelas vidas humanas. Quando de repente se ouviu o som de um Shofar. E após isto silêncio.
As tropas de Hallel se reuniram sobre a Cidade de Davi, os céus se abriram novamente e ela conduziu sua orquestra e coro rompendo o silêncio:
“Glória seja somente a Yahweh nos mais altos céus! E que na Terra haja paz entre os homens!”
Ao longe, pode se ouvir o chorinho de um bebê.
Aquela batalha acabou. E uma nova história começou.
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